Plano de expansão em países emergentes explica porque Microsoft comprou a Nokia

Na semana passada, a Microsoft anunciou que está comprando a divisão de dispositivos e serviços da Nokia, uma jogada ousada da gigante de software para reforçar a posição do seu Windows Phone no concorrido mercado de smartphones.
O acordo entre as empresas deve ser concluído apenas no primeiro trimestre de 2014, sujeito a aprovação dos acionistas e órgãos reguladores.
Mas afinal, qual é a lógica estratégica por trás dessa aquisição? Por parte da Microsoft, existem duas principais razões, que na verdade estão intrinsecamente interligadas, para a compra.
1. Consolidar sua posição no mercado móvel. Por muitos anos, a empresa de software de Redmond articulou a importância de estar presente no mercado móvel, mas tem sido amplamente mal sucedida em suas tentativas, deixando as interações de sua plataforma cada vez mais irrelevantes nessa Era pós-PC. Sua participação nas vendas globais de smartphones (através do Windows Phone) não passa dos 5%.

Desde que fechou uma parceria estratégica com a Nokia, em 2011, a finlandesa tem sido a maior torcedora pelo sucesso do sistema operacional da Microsoft. Ambas as empresas têm essencialmente apostado seus respectivos futuros no consumidor móvel, logo é possível ver a aquisição como uma extensão lógica dessa parceria para uma plena integração entre hardware, software, conteúdos e serviços – para desafiar os ecossistemas do Google e da Apple.
2. Necessidade de expandir sua presença em mercados emergentes. A presença móvel da Microsoft está basicamente concentrada em grande parte da Europa e nos Estados Unidos, graças aos smartphones da linha Lumia da Nokia. Enquanto esses são considerados mercados de alto valor, em muitos aspectos eles também são os mais difíceis, pois têm uma participação muito baixa no mercado global – inclusive pelos altos subsídios das operadoras de telefonia móvel.
A situação é bem diferente nos mercados em desenvolvimento, basta olharmos para o Brasil. Nesses países, a penetração da telefonia móvel ainda está em cerca de 50% (ou menos) do total, com os smartphones representando apenas cerca de 10%. A penetração da internet é de apenas 30%, mas cresce rapidamente, com grande parte desse crescimento impulsionado pelos dispositivos móveis. Boa parte da vasta população dessas regiões ainda usam os feature phones, mas devem migrar para smartphones nos próximos 3 ou 5 anos, de acordo com a escala de desenvolvimento móvel.

É claro que, para atingir esse público, é preciso muito mais do que projeto e preço. É preciso marketing intensivo e sustentado, área que a Microsoft ainda tem pouco conhecimento, enquanto a Nokia é uma marca bem conhecida e estabelecida nesses mercados. A Microsoft pode tentar se aproveitar desse posicionamento dos feature phones da Nokia como uma “rampa” para introduzir seus Windows Phone mais completos.

Se a Microsoft-Nokia mantiver sua filosofia de alto volume de vendas a um preço baixo para atender a demanda de mercados de massa e conseguir construir uma importante participação nesses mercados de rápido crescimento, a empresa tem boas chances de chegar perto de sua meta de 15% de participação no mercado global de smartphones – previsto para atingir a marca de US$ 1,7 bilhões em 2018.