Criador da Web diz que controle do governo sufoca liberdade na rede

O inventor da WWW alertou esta sexta-feira que o controle governamental está limitando as possibilidades da internet, enquanto dezenas de países e empresas sinalizaram para um acordo de cibersegurança no fórum de Davos. Os comentários de Tim Berners-Lee no Fórum Econômico Mundial se inscreveram em um debate mais amplo entre os delegados sobre o futuro da internet, particularmente em como equilibrar abertura com privacidade e segurança.

Enquanto a diretora do Yahoo!, Marissa Mayer, disse ao fórum existir uma “negociação” entre privacidade e os benefícios de seus serviços cada vez mais personalizados oferecidos pelas gigantes da internet, o fundador da rede afirmou que questões éticas estão em jogo. “O sonho é uma internet mais aberta”, disse Berners-Lee aos participantes do encontro no resort de esqui suíço, citando a mídia social como uma forma de derrubar as barreiras.

Mas ele ponderou que o suicídio recente de Aaron Swartz, um ciberativista de 26 anos que era acusado de copiar ilegalmente e distribuir milhões de artigos acadêmicos, chamou atenção para os esforços do governo em policiar a internet. “Ele (Swartz) fez muitos downloads e então o serviço secreto dos Estados Unidos decidiu que era um hacker. Para eles, o termo não é elogioso no sentido que lhe dou. Para mim um hacker é alguém que é criativo e faz coisas maravilhosas”, afirmou.

Berners-Lee – que lançou a primeira página na internet sobre o Dia de Natal de 1990 e é apontado como o criador da World Wide Web – pediu aos governos que divulguem mais dados, afirmando que outros poderiam usá-los para encontrar soluções para questões como, por exemplo, problemas econômicos ou de saúde. “Eles (os governos) podem te dar 101 razões para não fazer isto, mas se baseiam em controle”, disse Berners-Lee ao fórum.

Marissa, CEO do Yahoo!, fez uma abordagem diferente quando se trata de dados sobre usuários individuais mantidos por companhias como a dela e outras gigantes na internet, como Facebook e Google. “Acho que a privacidade sempre vai ser algo que os usuários devem considerar. Mas também penso que a privacidade é uma negociação”, afirmou.

“Porque quando você dá informações pessoais, você obtém funcionalidade de volta”, acrescentou. Marissa, de 37 anos, que assumiu o comando da Yahoo! em julho depois de 13 anos no Google, em uma manobra com vistas a revigorar a combalida empresa de internet, disse que o futuro consiste na crescente “personalização” da web.

A CEO previu o domínio, nos próximos anos, de dispositivos de internet portáteis para receber conteúdo personalizado. “Realmente é importante se você olha para o que está acontecendo em termos de mudança para a plataforma móvel”, acrescentou, destacando que o número de tablets e smartphones triplicaram em cinco anos e que os tablets irão superar em vendas os laptops este ano. “A questão é ganhar dinheiro com isso”, acrescentou.

Para líderes governamentais em Davos, o tópico se concentrou em como reforçar o poder da internet para impulsionar a economia mundial, ao mesmo tempo mantendo a segurança contra fraudes e terrorismo. Mais de 70 empresas e entidades governamentais oficialmente firmaram nesta sexta-feira novos princípios de “Ciber Resiliência” com vistas a enfrentar o problema.

Falando ao fórum de Davos hoje, o ministro britânico de cibersegurança Francis Maude disse que uma internet “segura e protegida” era necessária para ajudar os negócios a prosperar. “A cibersegurança é um desafio global, compartilhado. Nossas companhias operam em um mercado global. A ameaça cibernética não conhece fronteiras geográficas e importa que aqueles a quem nos conectamos sejam seguros também”, disse Maude.